quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Assembléia de 24/09 e alguns comentários

Perdão pela demora... como pode-se ver pela data, o post foi escrito semana passada, mas saí correndo e não publiquei.

Ainda com informes sobre a greve - o que já evidencia o resultado da assembléia docente de ontem, à qual estive presente. Por outro lado está longe de evidenciar tudo que ela foi. Foram cerca de 4 horas de discussão no abarrotado auditório 31, que obviamente extrapolou por um bom bocado sua lotação.

A Faculdade de Educação compareceu em massa - mas sem o apoio de outras unidades - para expor sua proposta de suspensão da greve. A resposta foi, como era de se esperar, o repúdio da maior parte da assembléia, na forma de silêncio, vaias e, após, inúmeros discursos contrários e muito duros, para dizer o mínimo. Ainda assim houve muitos que elogiaram ao menos a atitude de comparecimento dos professores da unidade que, ao contrário de outras, decidiu levar sua posição à assembléia.

A manutenção da greve ganhou, mas acho que é de nota que o número absoluto e relativo de votantes contra cresceu muito em relação à assembléia que decidiu por ela; e que a moção de repúdio às "assembléias paralelas" só passou após modificação que reduziu drasticamente sua agressividade. Muitas outras propostas foram aprovadas em bloco, com destaque para a formação de uma comissão para avaliar a proposta do governo (a começar por sua existência de fato) e pedido de consulta ao "tortura nunca mais" para avaliar o tratamento dispensado aos estudantes que ocupam a reitoria.

Do ponto de vista pessoal, votei contra a greve, e acho que cabe explicar o porquê, embora eu normalmente não faça nenhum segredo. Mas há basicamente dois motivos, que achei muito bem explicados ontem por pessoas diferentes.

O primeiro, por colega da unidade de Engenharia, que lembrou muito bem que esta é a 4ª greve desde 2001, e que nenhuma delas trouxe nenhum - NENHUM - reajusta salarial. Grande parte da ASDUERJ insiste que a própria proposta do governo trazida pelo reitor teria sido já um fruto do estado de greve, mas, tendo em vista que das últimas 3 vezes a greve não causou nenhuma comoção por parte do governo, parece evidente que a causa se encontra em algum outro lugar. Ora, o movimento sindical usa sempre, a meu ver corretamente, a palavra "luta" para designar as atividades de greve - o estado de greve sendo como que um estado de guerra. Como em qualquer batalha, esforços de guerra consomem recursos e, principalmente, causam prejuízos irreparáveis. E que espécie de comandante escolhe tamanho prejuízo numa operação que falhou seguidamente? Quem escolhe voluntariamente sacrificar professores, técnico-administrativos e, principalmente, alunos, por NADA, pela quarta vez seguida?!?

Possível presunção minha, mas penso que a maioria dos docentes comete erro gravíssimo, por causas que posso apenas imaginar. Pouca percepção? Apego a velhos hábitos? Outros interesses? Parece que há pelo menos uma década a greve dos funcionários, docentes ou não, perdeu completamente sua eficácia. Por quê? Discussão delicada.

Mas os donos da lanchonete do 3º andar, com quem tive uma boa conversa ontem, dão pistas que não são nenhum segredo: o movimento deles praticamente não mudou desde o início da greve. O estacionamento continua cheio. Resumindo: a UERJ não parou. Motivos? Os inúmeros funcionários terceirizados, que não participam dos sindicatos; os programas de pós que, salvo os poucos gatos pingados de sempre, continuam agindo como se isto não tivesse nada a ver com eles; claro, as muitas unidades que simplesmente passam por cima da greve e pronto; e possivelmente muitos outros.

É uma luta? Bom, então estamos batendo muito fraco. Os estudantes ocuparam a reitoria e no dia seguinte estavam no jornal - já contei 3 reportagens na grande mídia, sem ter procurado por nenhuma. A bicicleata parece ter sido notada pelo noticiário de anteontem, rapidamente... mas greve? Que greve? Ninguém sabe dela. A máquina de pesquisa universitária, com sua tirania da produtividade, também em nada é afetada, afinal até os programas de pós que param não ousam desrespeitar seus prazos. E afinal, nessa luta estamos arriscando o quê, além da saúde acadêmica de nossos alunos?

Por sinal, é deles mesmos a sugestão que ficou estranhamente ausente da assembléia, e que, nova possível presunção, é absolutamente razoável: se a UERJ está em condições tão precárias e, ainda por cima, em greve, como diabos ainda estamos dando andamento ao processo para a admissão de novas turmas?! O vestibular tem que ser suspenso semana retrasada! Aí, sim, ao que tudo indica a classe média indignadinha vai ter um faniquito e a greve vai chamar a atenção. Claro, a mídia vai cair em cima, a chefia vai cortar os salários... Mas, bem.

Luta, não era isso?

Sem mais por hora... Nova assembléia semana que vem, e assim que possível comentários sobre os textos complementares que recomendei.

Um comentário:

Anônimo disse...

Heitor
Muito pertinentes seus argumentos!

Se, passadas 4 greves, o Governo do estado não se manifesta, obviamente os mecanismos de luta precisam ser revistos.

Não sei se estou equivocada, mas este governo Cabral, apesar de bastante pressionado por todas as categorias de servidores estaduais, não se sente sequer minimamente afetado!!
Tem a mídia nas mãos, o apoio do Presidente Lula (que conta por sua vez, com 80% de aprovação)e seu cinismo chega a provocar náuseas.

De qualquer forma, com greve ou sem, a "luta" precisa encontrar mais força e novas estratégias.
Do jeito que está, tá dificílimo!!!

Quanto aos prejuízos acadêmicos, torço para que consigamos recuperar. Este período está com conteúdos muito mais densos e interessantes, e os professores estão excelentes!
Não vamos desanimar!
Abraço, Simone.